Por que times brasileiros de League of Legends vão mal em torneios internacionais - Versus

O Brasil tem história no "lolzinho" desde 2013

Foto: Lucas Takashi/Versus/Montagem

Foto: Lucas Takashi/Versus/Montagem

Desde que o Brasil foi incluído no cenário competitivo internacional de League of Legends em 2013, nossos representantes nunca conseguiram um bom desempenho no Mid-Season Invitational ou Mundial. Isso pode envolver diversos fatores, mas existem alguns pontos em comum que falaremos ao longo deste opinativo, questionando o por quê de times brasileiros não terem bom desempenho em torneios internacionais.

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Contando com a participação da INTZ no Mid-Season Invitational 2019, o Brasil já foi representado em torneios internacionais 15 vezes com: paiN Gaming, KaBuM, INTZ, Team oNe e RED Canids Kalunga.

O melhor desempenho de todas as participações foi da paiN em 2015, que venceu o Wildcard invicta e chegou na fase de grupos do Mundial, vencendo um jogo da Flash Wolves e da Counter Logic Gaming (CLG).

A zona de conforto

Utilizando a performance da paiN como primeiro exemplo, vamos analisar a partida contra a taiwanesa Flash Wolves que foi a grande surpresa do torneio.

A paiN conseguiu vencer esta partida com campeões de conforto, optando por personagens com os quais a a line-up já estava familiarizada, e conseguiu impor o seu ritmo sem problemas, mesmo começando na desvantagem. Na ocasião, os pro player escolheram:

  • Matheus "Mylon" Borges jogou de Gnar, com 4 vitórias durante a etapa do CBLoL;
  • Thúlio "Sirt" Carlos jogou de Gragas, com 6 vitórias durante a etapa do CBLoL;
  • Gabriel "Kami" Bohm jogou de Twisted Fate, uma escolha surpresa para o torneio;
  • Felipe "brTT" Gonçalves de Tristana, um hipercarregador forte do meta; 
  • Hugo "Dioud" Padioleau com Braum, um dos principais campeões da fase dos playoffs do CBLoL.
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Estas escolhas também são mérito do treinador, que na época era Gabriel "MiT" Souza, em perceber que a Flash Wolves possui um ritmo de jogo com mais lutas, diferente do padrão brasileiro, e aplicou uma estratégia reversa com rotações de Twisted Fate e Gnar levando as rotas laterais.

Por conta da derrota, a equipe taiwanesa se reestruturou e venceu a partida seguinte utilizando o que aconteceu como aprendizado. Mas o ponto é justamente este, pois entrar na zona de conforto pode não ser eficiente contra outras equipes mais familiarizadas com o estilo de jogo ocidental.

A KOO Tigers e CLG são exemplos de times que conhecem bem as estratégias brasileiras, pois elas são de grandes regiões fontes de estudo e as táticas usadas aqui são parecidas com as deles. Assim, utilizar da zona de conforto pode ser ideal no começo para trazer calma aos jogadores, principalmente se perceber que sua estratégia é boa contra a rival, mas não é tudo. - e isso nos leva ao próximo tópico.

Bootcamp visando o meta

Muitas das vezes que equipes brasileiras fizeram bootcamp, elas cometeram um grave erro: usaram treinos internacionais para "copiar" estilos que gostaram, tanto que os próprios narradores, comentaristas e analistas brasileiros costumam estranhar os picks dos times nacionais durante os primeiros jogos de torneios internacionais.

Bootcamp pode ser benéfico com o objetivo de entrar no ritmo do campeonato. Utilizar para testar estratégias pode trazer efeitos negativos, pois ao experimentar um pick contra uma equipe com a qual  não há nenhum histórico, fica difícil mensurar a eficácia da tática.

Algo que também pode entrar neste ponto é o tão mencionado "meta do MSI/Mundial", pois muitas vezes os campeonatos regionais possuem seus respectivos metas que mesclam muitos estilos diferentes, formando um novo jeito de pensar de maneira que a equipe com melhor adaptação e comissão técnica se sairá melhor.

Pode parecer meio amplo de início, mas um exemplo está no Mundial de 2016. O suporte Kirill "Likkrit" Malofeyev, da Albux Nox Luna, realizava picks diferentes de sua região para o torneio, com Taric e Brand, para inibir a ofensiva das populares Zyra e Karma.

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A ideia da ofensividade contra os suportes populares foi uma ideia que se disseminou entre os outros times, porém na forma de Miss Fortune da ROX Tigers e Samsung Galaxy. Mesmo sendo rivais, ROX e Galaxy se juntaram durante treinos para formar uma estratégia contra a Zyra da SKT, pois até mesmo Brand tinha dificuldades para enfrentar a campeã - algo que Miss Fortune não tinha.

Dessa maneira, usar um bootcamp para fazer análises da região e adaptar o seu estilo pode ser uma das melhores saídas, ao invés de mudar tudo e começar um "estilo do zero". Se o Brasil conseguisse um seed a mais para o Mundial, poderia fazer como a ROX e a Galaxy, que se uniram para trocar estratégias contra um mal maior.

Mentalidade

Este último ponto é um dos mais visíveis para o público - as equipes jogam bem nos torneios nacionais e deixam a desejar em solo internacional. Só que a frustração mais visível não é a derrota, mas sim a demonstração de um gameplay muito inferior por causa de medo de arriscar uma jogada ou acontecer o famoso "tilt".

Um exemplo disto é a INTZ de 2015, que conseguiu vencer um jogo incrível contra a EDward Gaming. Naquela situação a equipe já começou como "azarão do grupo" e jogou sem nada a perder. Porém, após a vitória os jogadores tiltaram e não souberam o que fazer sem os picks que usaram na conquista anterior, dando uma sensação pior ao público por mostrar que tinham potencial para seguir, mas falharam.

Além disso, existe também o fator da equipe ser inexperiente e o nervosismo tomar conta, fazendo com que as tomadas de decisões mais simples se convertessem em erros por falta de calma.

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São nesses pontos que a INTZ atual pode se destacar: a comissão mostrou um bom preparo para tornar a line-up intrépida uma equipe mentalmente estável, e isso refletiu na campanha do time, principalmente na grande final contra o Flamengo. A INTZ perdeu a primeira partida em um atropelo e seguiu a série com mais garra.

Nos torneios internacionais isso é mais importante do que nunca, porque querendo ou não, o confronto contra uma equipe de região forte é inevitável. Mas ter a cabeça para não levar isso para o resto da série ou para qualquer outro jogo pode ser o grande diferencial - a questão não é só habilidade, mas sim resiliência para manter a equipe unida.

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A próxima competição em cenário internacional será o Mid-Season Invitational 2019, em que a INTZ participa do Grupo B contra MEGA, Detonation FocusMe e Vega Squadron. Veja mais detalhes das rivais dos intrépidos acima. O torneio começa em 1 de maio e vale um espaço extra no Mundial para o time melhor colocado da região do Play-in (antigo Wildcard). 

Lucas Takashi é redator do Versus. Siga-o no Twitter em @IugahTK.

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