Nuddle fala sobre UOL, Brasil e planos para futuro: "Algumas vezes nós precisamos deixar o ...

Após passar pelo Brasil de maneira meteórica, Jean-François "Nuudle" Caron, ex-técnico da KaBuM e-Sports já está trabalhando em uma nova organização na LCS europeia, a Unicorns of Love, como analista. Muitos creditam a ascensão da equipe de Limeira ao seu esforço, ao fazer jogadores como Alexandre "Titan" Lima e Matheus "Dynquedo" Rossini garantirem seu lugar ao sol no CBLoL.

  • Nova equipe do ex-KaBuM disputa a liga profissional europeia e, atualmente, ocupa a oitava colocação da segunda etapa

Na entrevista que segue logo abaixo, Nuudle fala sobre a decisão de deixar de lado o posto de técnico para ser um analista, do tempo na KaBuM e planos para o futuro. Em uma das partes da entrevista, o treinador franco-canadense diz que, se voltar ao Brasil, vai aprender português e se dedicar em fazer o país seguir em frente.

ESPN Esports Brasil: Porque você decidiu deixar o Brasil e partir para a Europa?

Nuudle: Eu deixei o Brasil porque a indústria dos esports está em constante evolução, é uma indústria que sempre está mudando, na qual os "dinossauros" desse mundo nunca vão evoluir rápido o suficiente para se manter em ascensão. Eu senti que no Brasil, com a KaBuM, eu cheguei a um nível que eu poderia vencer, mas não me manteria a frente de todos os outros. Eu preciso ver novos jogadores, novos estilos, novas infraestruturas para continuar avançando em minha carreira.

O que muitos ignoram é que não tem nada a ver com dinheiro. Eu aceitei menos dinheiro para ter essa chance, porque você não pode colocar um preço em conhecimento e experiência. Dinheiro é temporário, conhecimento é para sempre.

Você fala em conhecimento. Você acredita que esse investimento é algo que muitos treinadores ao redor do mundo estão precisando? Esse tempo para respirar e aprender mais métodos de trabalho, aprendendo com pessoas mais experientes?

Definitivamente. Evolução constante é algo que todos deveriam estar procurando. No dia em que você pensar que sabe de tudo, é o dia que você vai cair. Todos nós somos diferentes e o que me define é a minha habilidade de analisar e tirar o melhor de quase todas as situações. Conhecendo a mim mesmo, eu tomo uma decisão que poderia me ajudar. Eu treino todo dia, leio todo dia e questiono a mim mesmo a um objetivo: melhorar. Qualquer técnico deveria entender quem ele é o que precisa fazer para melhorar.

"Algumas vezes nós precisamos deixar o orgulho de lado, dar um passo para trás e pedir ajuda para dar cinco passos adiante." Jean-François "Nuddle" Caron

Mesmo assim você está na Unicorns of Love como analista. Muitas pessoas sentem que isso é um retrocesso em sua carreira.

Bem, aparentemente muitas pessoas pensam que eu estou trabalhando de casa, mas estou na Alemanha ao redor de profissionais que estão na cena por anos e um treinador que está atuando desde 2015. Para essas pessoas eu pergunto: "você considera isso um retrocesso em sua carreira?". O papel que você assume não definem quem você é. Você não é definido por uma etiqueta ou um título. Você é definido pelas suas ações.

Faz tempo que você saiu da KaBuM. Porque levou tanto tempo para revelar sua contratação na Uniconrs of Love?

Tivemos que lidar com os assuntos de papela e visto, queríamos que tudo estivesse 100% legal e foi isso o que fizemos. Agora meu foco está completamente direcionado ao trabalho.

Você acredita que sua trajetória com a KaBuM, trazendo eles do Circuito Desafiante e se tornando campeão ajudou você ir para a UOL?

100%. Eu acredito que isso foi o principal fator. O que muitos ignoram é que meu networking nos esports são praticamente inexistentes, tudo veio do meu trabalho duro e minha devoção ao jogo. Esports não é diferente do futebol. Resultados é algo o que os times estão atrás e isso sempre fala por si mesmos.

Nós sabemos que você gosta de ter o controle das situações, mas nem tudo está sob seu controle. Quando você é treinador tem o controle dos treinos, mas os resultados chegam da atuação dos jogadores no palco. Agora que você é um analista, o que você pode controlar para ajudar seu time?

Eu posso controlar meu próprio trabalho e os dados que eu trago. É um desafio não estar no comando, faz com que eu saia da minha zona de conforto e me força a estar em evolução constante. Já que aceitei essa posição, estou desenvolvendo minhas habilidades, novas formas de trabalho e de ver o jogo. Isso está me tornando em um treinador melhor todos os dias. Eu também gosto de pensar que minhas habilidades complementam muito bem com os jogadores e o meu head coach e vou continuar a fazer o meu melhor todos os dias para me manter evoluindo.

Ao lado de Peter Dun, você é considerado um dos melhores técnicos que passou pelo Brasil. Porque técnicos estrangeiros são tão diferentes dos treinadores que nasceram aqui? O que vocês têm que nós não temos?

Eu pessoalmente penso que isso não se trata de ser diferente, mas quais são seus objetivos e na forma que se relaciona com o jogo. Peter e eu somos muito diferentes na forma que encaramos o jogo, mas investimos nossos corações e almas para vencer e trazer nossa filosofia. Não estou dizendo que isso não acontece com os treinadores brasileiros, mas, para mim, League of Legends não é apenas um hobby, um trabalho, é a minha vida.

Essa é foi uma questão muito difícil de responder. Eu também penso que o problema não são apenas os treinadores, mas começa com as organizações, jogadores, a cena inteira no geral. É uma questão de cultura e filosofia.

Mas você teve uma boa experiência na Fnatic Academy, certo? Você acredita que essa experiência, de trabalhar na Europa, por exemplo, é melhor do que nós temos aqui no CBLoL, certo?

O que algumas pessoas ignoram é que eu tive 5 anos na universidade, representei minha província em diversos campeonatos esportivos, não é sobre a experiência aqui ou ali, é sobre o que você faz com isso. Tendo a chance de trabalhar com Luis "Deilor" Sevilla foi única, um incrível passo para minha carreira, mas isso foi minha escolha de sentar, pensar no que eu aprendi, tirar o melhor e o pior disso para me tornar uma versão melhor de mim mesmo.

"Você pode ver o mundo, mas se não tirar proveito disso, também pode ficar em casa." Jean-François "Nuddle" Caron

Quando você deixou a KaBuM, muitos fãs pensaram que você estaria inclinado a ficar aqui no Brasil, pois mesmo longe, você continuou a se relacionar com os brasileiros. Você acredita que ainda existe alguma chance de voltar para o CBLoL?

Como eu já disse diversas vezes nas redes sociais, o Brasil foi fantástico pra mim. Algumas vezes, é um relacionamento de amor e ódio. Como qualquer coisa na vida, eu não sei o que o futururo guarda pra mim, mas o Brasil está muito alto na minha lista de prioridades quando chegar a hora de seguir em frente na minha carreira na próxima temporada. O tempo dirá, mas eu posso dizer uma coisa: estou animado para o futuro, onde quer que eu vá.

No fim das contas, esports é um negócio, eu sou muito sortudo por viver da minha paixão e talvez um dia eu possa compartilhar essa paixão com esse país que me recebeu muito bem.

Como está seu relacionamento com os jogadores da KaBuM? À primeira vista, nós aqui de fora sentimos que a história de você não acabou bem. Ou isso foi só uma má-impressão?

Para alguns, eu era um pai, para outros, talvez um irmão mais velho que eles amam a odiar ou odeiam a amar. No fim, relacionamentos vem e vão e sendo eu mesmo uma pessoa fria e tendo a capacidade de me separar das pessoas, eu mentiria dizendo que falo com todos eles. Mas minha relação com os jogadores é boa na maior parte. Nós compartilhamos momentos incríveis juntos e nada vai tirar isso de nós.

Caso você volte para o Brasil, o que você faria para ser o melhor treinador da história dos esports por aqui? Você poderia aprender português para ter uma comunicação melhor com os jogadores, por exemplo?

Definitivamente. Eu acredito que comunicação e a habilidade de se conectar com seus jogadores são as melhores ferramentas dentro e fora do jogo. O que muitos ignoram, meus jogadores inclusive, é que eu podia entender cerca de 50% a 75% do que as pessoas diziam, mas eu tenho a habilidade de ler a mente das pessoas. Isso me ajudou a compensar minha inabilidade para entender e me comunicar. Se eu voltar, eu vou fzer um curso intensivo de português para conseguir me entregar completamente para a região seguir em frente.

Se, no futuro, você voltar para o Brasil, que tipo de time você gostaria de trabalhar? Um time com jogadores estabelecidos, ou fazer algo que fez com a KaBuM – com alguns jogadores não tão famosos, mas mais flexíveis de se trabalhar.

Eu acredito muito que os jogadores que você recebe ou escolhe não é um critério para um treinador. Como treinadores, nosso trabalho é tirar o melhor de um time e se adaptar aos jogadores. Essa flexibilidade define um bom treinador de um execelente.

No fim das contas, é questão de filosofia e sedução. Se você consegue receber o respeito de seus jogadores, eles vão querer te seguir e vencer com você.

Tenho uma curta história para contar: eu aprendi isso com meu pai. Nós somos uma família atlética, meu pai me treinou por toda minha vida e nós sempre tivemos o MELHOR TIME de beiseball em todos os verões e nós sempre encontramos uma maneira de vencer.

Então meu irmão mais novo teve um grupo com talento muito limitado e, ainda assim, ele quase sempre encontrou maneiras de se vencer. Meu pai é um dos maiores modelos de vida que tive.

Mas é assim, eu aprendi com ele que mão se trata de talento que você tem, quanto dinheiro que você tem, mas sobre ensinar as pessoas como vencer e como elas podem sempre encontrar um meio para alcançar o que elas querem.