Em uma ação que ninguém esperava, a Riot Games retirou o banimento permanente de Tyler "Tyler1" Steinkamp e até o convidou para a mesa de análise durante a grande final da LCS NA na Oracle Arena.
No verão de 2017, uma fila de fãs ziguezagueava pelo estacionamento da LCS Arena em Santa Mônica, Califórnia. A temporada da liga norte-americana de League of Legends estava chegando ao fim, e os fãs – uma mistura de novos e antigos – estavam aguardando para ver qual equipe da região viajaria para a China em busca da Summoner's Cup e do título de campeão mundial de League of Legends.
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Um adolescente passou pelos detectores de metal junto de seus amigos com um cartaz branco por baixo do braço. Cartazes são algo comum na arena. As pessoas desenham de emoticons para torcer por seu time favorito a ilustrações de personagens de League of Legends, ou até algo simples como uma piada interna da comunidade com a qual esperam ter alguma reação do chat da Twitch.
Esse fã, no entanto, foi parado pela equipe de segurança antes mesmo de entrar no estúdio. Gentilmente, um dos seguranças pediu para recolher o cartaz do adolescente, e ele o entregou, pediu desculpas e entrou na arena com os amigos para conseguir um lugar antes das partidas começaram. Passando a impressão de que aquela não fora a primeira vez que tinha confiscado o cartaz de um fã, o segurança andou até o lixo para jogar o pedaço de papel fora antes de voltar aos seus afazeres.
O que estava escrito de tão ruim no cartaz para o segurança jogá-lo fora?
Um palavrão? Um desenho impróprio?
Nenhum dos dois.
No lixo, o papel já amassado ao lado de embalagens de comida e bebida dizia apenas uma coisa: "#FREETYLER1" ("Liberte Tyler1", em tradução literal).
"Foi uma coisa inteligente a se fazer. Eu era um babaca".
Pouco mais de um ano depois do incidente com o cartaz, eu tinha em minha frente o homem que inspirou o "contrabando" descartado: Tyler Steinkamp, mais popularmente conhecido por seu nickname, Tyler1. Estávamos na final da LCS NA em Oakland, poucas semanas antes dos melhores times da região embarcarem para competir no Mundial. Cartazes pedindo pela liberação de Tyler não são mais proibidos dentro da arena, e ele não é mais um exilado do jogo que tanto ama.
Steinkamp ficou famoso em agosto de 2016 ao ser banido indefinitivamente de jogar League of Legends. Essa foi a primeira punição do tipo na história do jogo, pois ele não teve apenas uma de suas contas banidas. Todas as suas contas foram removidas, e se ele fizesse uma nova e fosse descoberto, esta também seria banida. Era como um jogo infinito de "esconde-esconde" para Steinkamp, que jogava o máximo que podia secretamente em uma conta até que ela fosse descoberta e deletada pela Riot Games.
"Por conta de um histórico bem documentado de contas banidas por abuso verbal e feeding intencional, assim como compartilhamento de contas e compras, evasão dos sistemas de espírito esportivo e assédio de jogadores, não permitiremos que Tyler1 tenha uma conta em League of Legends por tempo indefinido", escreveu Eric "Socrates" Kenna, um dos principais game designers do jogo, no fórum oficial de League of Legends em abril de 2016. "Qualquer conta definitivamente utilizada por ele será banida imediatamente após identificação. Sabemos que não somos perfeitos e que isso se estendeu por muito tempo, mas queremos que saibam que estamos aqui para protegê-los quando aparece um jogador ocasional que é um completo idiota".
A medida foi um soco no estômago para o recente streamer na Twitch. Steinkamp, um universitário na época, estava ganhando popularidade por uma mistura que envolvia jogar muito bem de Draven (seu "campeão assinatura"), seu humor auto-depreciativo e seu temperamento, que o levava a ter ataques de raiva que eram gravados e compartilhados na internet.
A raiva de Steinkamp fora e – mais importante – dentro do jogo levaram a seu banimento. Se as coisas davam errado em uma partida, ele marchava em direção a rota do meio para morrer de novo, de novo e de novo, arruinando a experiência do jogo para seus companheiros de equipe.
Quanto mais ele ficava famoso, maior ficava a lupa que o examinava e, no fim, ele estava tão grande que era possível ignorá-lo – alguns imitadores, por exemplo, já estavam copiando sua tática de "correr até a rota do meio" para enfurecer os companheiros de equipe.
Na maioria das vezes, quando tiram de você a coisa que você faz de melhor, é difícil de superar.
O que é um violinista sem um violino? Um pintor sem um pincel?
Para Steinkamp, sua vida era acordar, malhar (ele nunca perde a oportunidade de mostrar os bíceps), jogar League of Legends, comer, jogar mais League of Legends, dormir e, então, repetir tudo no dia seguinte. Ele jogava mais de 15 horas de League of Legends por dia. Isso era o que ele amava fazer, e tudo isso fora tirado de suas mãos. Ele não tinha chance alguma de voltar a transmitir o jogo no qual tinha investido milhares de horas.
"Eu não consigo me lembrar, porque eu estava fazendo uma transmissão, então não podia ficar triste ou algo do time na stream", disse Steinkamp quando perguntado sobre o que passou em sua cabeça ao descobrir que estava indefinitivamente banido. "Eu realmente não consigo me lembrar de como me senti [no momento]. Depois, eu fiquei: 'OK, o que eu faço agora?', porque eu tinha acabado de desligar a stream. 'O que eu faço? Continuo fazendo transmissões?'"
E ele continuou fazendo transmissões. Quando a vida lhe deu limões, de alguma forma ele fez uma limonada. Banido de jogar, Steinkamp começou a assistir aos jogos dos telespectadores e a orientá-los sobre como ser um melhor jogador de League of Legends. A partir daí, passou a experimentar com seu conteúdo, transmitindo ao vivo a si mesmo cozinhando bolos, vestindo-se como o famoso artista Bob Ross para pintar quadros e até mesmo fazendo um show de mágica casual para o público. Em vez da audiência de Steinkamp diminuir por conta do banimento, os números cresceram com um novo público descobrindo-o através da publicidade de ter sido indefinidamente banido pela Riot Games e ficando pelo conteúdo original não encontrado em nenhum outro lugar na Twitch.
"Eu não fiz coisas criativas [na escola], mas... eu era bocudo", disse Steinkamp sobre sua inspiração para suas agora famosas streams variadas. "Eu sempre tinha insultos diferentes e criativos".
Em suas transmissões, a única palavra para descrever Steinkamp é "showman". Não importa se você está disputando um jogo de digitação contra seus amigos em um site que parece ter sido feito em 2000 ou correndo para terminar um jogo de terror no qual você escolhe seu próprio caminho, o streamer Tyler1 está sempre dando um show, gritando, interagindo e rindo com sua audiência. Ele tem um site no qual vende produtos personalizados que vão desde regatas com suas frases famosas ao suplemento dietético "Blood Rush", que apresenta Steinkamp flexionando os músculos na embalagem como um personagem de um de seus desenhos favoritos, Dragon Ball Z.
Às vezes, é difícil descobrir onde Tyler Steinkamp começa e Tyler1 termina. Antes da entrevista, Steinkamp perguntou se poderia ficar com uma garrafa de água para que seus lábios ficassem bonitos na câmera. Depois de perceber que a maior parte da entrevista seria apenas sua voz sendo gravada, ele riu e perguntou se isso significava que ele poderia xingar à vontade para que eu editasse tudo mais tarde na pós-produção. Quando eu disse a ele que sim, Steinkamp, a plenos pulmões, começou a gritar uma série de palavrões na sala de imprensa da Riot Games, cada um mais alto que o anterior.
"Estou sendo 15 de 10. Durante uma partida de League, sou 12 de 10", explicou Steinkamp, dizendo-me o quanto ele é exagerado nas transmissões comparado com sua personalidade quando desliga a câmera. "Lá fora [em streams diversas], isso é um 15. Eu ainda sou muito apaixonado por tudo que faço. Sempre quero fazer o melhor, não importa o que seja".
No corredor, junto com sua namorada de longa data, Macaiyla, Steinkamp parou para falar com a funcionária da Riot que conhecera no dia anterior. Em todos os lugares que passava, outra pessoa queria falar com ele, e ele o fazia, dando tempo para quem pedisse e certificando-se de tentar lembrar o nome de cada pessoa que encontrava. Com todos eles, Steinkamp foi o mesmo: barulhento, animado e genuíno.
No primeiro dia da final da LCS norte-americana deste verão, o maior evento nacional do ano, a fila de pessoas para entrar no local se estendeu até o estádio de beisebol ao lado, o Oakland Coliseum. Ao lado da fila para entrar estava outra massa de fãs esperando por algo. No sol quente da Califórnia, conversando com um jovem garoto e seu pai, estava Steinkamp. Um sorriso preenchia seu rosto enquanto ele tirava fotos, batia papo e dava autógrafos para todas as pessoas que queriam conhecê-lo antes de entrarem na arena para assistir ao confronto pelo terceiro lugar na liga entre Team SoloMid e 100 Thieves.
"Eu nunca quero deixar ninguém esperando", afirmou Steinkamp. "Elas [crianças] estão tão felizes. 'É o T1! É o T1, cara!' Elas estão tão felizes em me ver. E não importa se eu fiquei lá fora por cinco horas ou mais, ainda é incrível. Eu faço o dia delas apenas falando 'E aí, qual é o seu nome? Tá tudo bem?'. Essas pequenas perguntas fazem o dia dessas crianças, e eu nunca vou esquecer isso".
A segurança, esforçando-se para manter a multidão em fila, tentou impedir Steinkamp. Ele disse que gritaram com ele por fazer uma cena com o público. No primeiro dia, gritaram com ele cinco vezes. Ele não parou. Não até que o último garoto pudesse vê-lo e Steinkamp pudesse perguntar como estava indo o dia dele.
Para um homem que foi banido publicamente do jogo que amava, a segurança precisaria de muito mais para impedi-lo de conhecer seus fãs.
No segundo dia, a segurança gritou com ele apenas duas vezes.
Steinkamp ficou sabendo que podia jogar League of Legends de novo quando estava no banheiro. Ele ficou tão animado que gritou para sua namorada, que já estava dormindo. Quando ela acordou, não acreditou nele.
Houve dias em que Steinkamp jogava a noite toda para tentar chegar a um certo nível em League of Legends, com medo de que seu progresso pudesse ser em vão se pegasse no sono e a Riot banisse sua conta. Após quase dois anos, seu banimento foi finalmente suspenso. Ele poderia jogar League of Legends sem o medo de ser punido toda vez que fechasse os olhos para uma soneca.
Tyler1 estava finalmente livre.
"É engraçado. Todo mundo que me diz para desistir, acho engraçado", disse Steinkamp.
Você já desistiu?
"Não. Então, por que me dizer isso? Por que desperdiçar seu tempo dizendo para que eu desista? Isso nunca vai acontecer".
Em sua primeira transmissão na Twitch após ser desbanido de League of Legends, Steinkamp, vestido como seu famoso Draven, quebrou o recorde de espectadores de qualquer streamer individual ao acumular mais de 385 mil espectadores ao vivo. O detentor anterior do recorde, Lee "Faker" Sang-hyeok, é o melhor jogador a ter jogado League of Legends, tendo acumulado três campeonatos mundiais e quatro finais mundiais em sua carreira. (O streamer de Fortnite, Tyler "Ninja" Blevins, quebrou esse recorde duas vezes alguns meses depois.)
E foi assim que chegamos às finais da LCS NA em Oakland. Steinkamp, que quase nunca deixa a sua casa em Missouri, decidiu fazer uma viagem a Oakland para o seu primeiro evento League of Legends, esperando conhecer seus seguidores e assistir as jogos ao vivo sem medo de ser parado na entrada pela segurança, como muitos dos seus fãs no passado.
Inesperadamente, ele acabou no palco na primeira noite do evento em uma partida de exibição, jogando contra seu rival e ex-profissional Michael "Imaqtpie" Santana na frente de milhares de pessoas na casa dos campeões da NBA, o Golden State Warriors.
Enquanto muitos especulam que isso foi planejado desde o início e que Steinkamp foi banido pela Riot Games na esperança de aumentar o interesse do público, não foi. Na verdade, a chamada para a aparição de Steinkamp não veio até segundos antes de ser anunciada.
"Uma vez que descobrimos que ele estava lá, Tyler se ofereceu. Nós não o trouxemos, não o colocamos [em um hotel]. E ele estava no local e disponível [para o showmatch], nós pensamos que seria uma grande oportunidade de se envolver com ele e com a comunidade", afirmou Chris Greely, comissário da liga norte-americana. "Quando eles fizeram o anúncio na mesa de análise durante a transmissão, essa decisão tinha sido tomada 30 segundos antes".
Sem qualquer preparação ou ensaio, Steinkamp tomou o centro do palco e capturou a multidão quase imediatamente com seu humor autodepreciativo. Foi algo surreal. O homem mais perseguido em League of Legends há apenas um ano estava no meio da Oracle Arena, e ele era a estrela, falando sobre Rioters, casters, jogadores, ele mesmo e muito mais. Nada estava fora dos limites.
"Ele está muito ciente da personalidade que 'assume' em sua transmissão", contou Mark "MarkZ" Zimmerman, que trabalhou com Steinkamp no fim de semana na mesa de analistas da liga. "Ele perguntou se deveria zoat os profissionais ou ais relaxado. Dissemos que queríamos a experiência Tyler1".
Steinkamp não é perfeito, mas ninguém é. Quando se trata de toxicidade, ele ainda vai xingar e se enfurecer com seus companheiros de equipe, como milhões de outros jogadores em todo o mundo que jogam videogames, e isso provavelmente nunca vai mudar. E quando se trata de olhar para si mesmo no espelho de dois anos atrás, ele percebe que o que aconteceu foi justo.
A verdade verdadeira por trás de Tyler1, Steinkamp ou o que você quiser chamá-lo é que ele realmente ama League of Legends, talvez mais do que qualquer outra pessoa neste planeta. Ele fica irritado com o estado do jogo e reclama porque gosta muito de jogar. Ele quer que o jogo seja o melhor possível, apesar de expressar isso de seu próprio jeito.
Quando não está dormindo, comendo ou saindo com sua namorada, ele está jogando League of Legends. Nas vezes em que ele fica meses sem fazer transmissões e os fãs pensam que ele está de férias em algum lugar no Havaí? Ele está jogando League of Legends. Ele literalmente tira uma folga das streams de League of Legends para jogar mais League of Legends sozinho.
Em seu pico nesta temporada, Steinkamp alcançou a 5ª posição no ranking de Desafiantes na América do Norte. Embora essa conta tenha caído novamente para perto da 2000ª posição após uma série de noites intermináveis de tentativas de compensar derrotas que levaram a ainda mais derrotas, ele não desistiu de sua meta de alcançar o topo do servidor.
Para terminar nossa longa entrevista, perguntei-lhe a única pergunta que me restava a fazer. A mais óbvio de todas.
O que League of Legends significa para você?
"Tudo".