A Redemption é uma das surpresas do 1º Split do CBLoL 2019. A organização originária de Porto Alegre acumula seis vitórias em dez partidas, ocupando atualmente a quarta colocação do Campeonato Brasileiro de League of Legends, mas apenas um ponto atrás da vice-líder Uppercut. Parte da boa campanha do time recém-promovido à elite do LoL brasileiro não está relacionado apenas à boa atuação dos jogadores. O técnico Luis "Piroxz" é um exemplo disso. Responsável principalmente pela montagem do draft da equipe antes de cada jogo, o comandante tem vasto conhecimento no League of Legends, acumulando um título regional e um período como streamer nos Estados Unidos.
Piroxz, técnico de League of Legends da Redemption — Foto: Divulgação/Riot Games
Um fato recente e que gerou bastante polêmica teve Piroxz como principal pivô. Na partida contra a Uppercut pela Semana 3, a transmissão oficial da Riot Games acabou revelando anotações de estratégia feitas pelo técnico em um caderno, que continha alguns Campeões prioritários para as composições formuladas para o time.
- Acho que foi uma falha por parte da produção. Já havia acontecido isso na Coreia e teve uma repercussão grande. Acontecer isso de novo é falta de instrução da Riot na minha opinião. Por sorte nossa, acabou trocando o patch na semana seguinte e aquilo lá não influenciou tanto assim. As anotações também não tinham tanta coisa, eram algumas prioridades que a gente jogava e algumas coisas que precisávamos lembrar antes do jogo. Ainda assim, é chato porque são coisas que você passa para o seu time que você espera que ninguém saiba, principalmente quando são seus defeitos e suas prioridades – reclamou o treinador.
Vida fora do Brasil
A primeira experiência de Piroxz com um cenário competitivo foi no World of Warcraft. Na época, o atual treinador cursava faculdade nos Estados Unidos. O ingresso no LoL veio em 2012, mas o contato com o jogo desenvolvido pela Riot se tornou mais intenso apenas em 2013 – época em que ele consolidou uma breve trajetória como streamer.
- Quando eu morava lá (nos Estados Unidos), eu fazia faculdade, tinha um emprego de estágio e treinava natação. Quando entrei em férias dos treinos e do trabalho no fim de 2012, comecei a fazer streams por curiosidade. Eu tinha internet e computador bons e decidi tentar. No começo, eu tinha aproximadamente cinco visualizações. Não era muita coisa, mas era uma galera que sempre estava lá comigo – conta.
Piroxz jogando de Viktor em stream de 2013 — Foto: Divulgação/Riot Games
O incremento no número visualizações foi alcançado quando o então streamer passou a apostar mais na comunidade brasileira. Em pouco tempo, Piroxz passou a dedicar bastante tempo ao jogo e chegou aos elos mais altos da fila ranqueada norte-americana. Algumas disputas memoráveis incluíram jogadores que chegaram a disputar a LCS no período e que mostravam bastante respeito pelo brasileiro.
- Após algum tempo, eu descobri o público brasileiro. Aí começou a aparecer mais gente: as visualizações subiram de cinco para 10, 15, 20, 50... Fui recebendo atenção de algumas pessoas, que foram me ajudando a divulgar e então comecei a ter uma média legal, de 300 ou 400 pessoas. Como eu jogava muitas partidas, acabei subindo e melhorando. Cheguei a jogar com muita gente do competitivo de lá – ressalta o técnico.
O verdadeiro sucesso veio em meados de 2013. Ainda que tivesse qualidade técnica como jogador, Piroxz se tornou um streamer conhecido por uma escolha de Campeão pouco usual à época, mas que sofreu algumas mudanças nas temporadas passadas e hoje se mostra presente em grande parte dos jogos competitivos. De quebra, ganhou um novo nick por conta de uma sugestão do público.
- Eu jogava muitas partidas de Viktor. Por causa disso, sugeriram que eu mudasse meu nick para "Best Viktor BR", e eu aceitei, porque só tinha eu jogando de Viktor mesmo. E pegou: um brasileiro, que streamava e jogava com um campeão que ninguém tocava. Ele [Viktor] não era horrível, mas tinham campeões muito melhores (risos) – aponta.
Começo como técnico e trajetória alternativa
O reconhecimento como streamer abriu portas para o atual técnico da Redemption. Mesmo morando fora do país, ele era figura influente no League of Legends brasileiro. Isso motivou o contato com alguns profissionais da época, como o suporte Martin "Espeon", que notou o potencial de Piroxz e o enviou uma proposta de trabalho em uma nova equipe.
- Quando eu morava nos Estados Unidos, eu já gostava de LoL competitivo. Assistia às partidas e me perguntava o porquê de os times jogarem daquele jeito. Eu conversava bastante com o Espeon pela internet e ele achou que eu tivesse interesse em participar da Cyber Gamer. Nessa época, coincidentemente eu estava em férias e tinha ido visitar a minha família na Argentina. Para ir para Porto Alegre, partindo de Buenos Aires, era um voo de uma hora. Acabei aceitando por conta disso – revela.
As coisas não fluíram como deveriam na Cyber Gamer, e em pouco tempo a organização deixou os eSports. Mesmo assim, a parceria entre Piroxz e Espeon não acabou por aí. Os dois partiram para uma nova empreitada, mas desta vez, resolveram fundar o próprio time: a MAD Gaming.
- A MAD era uma equipe que eu e o Espeon criamos. Nós colocamos o investimento inicial, procuramos lugar para colocar a Gaming House e pagamos as contas. Lá eu fiquei mais como manager e dono do time, porque o Espeon jogava e não podia cuidar disso. Essa experiência me ajudou a entender mais como funciona a gestão de uma Gaming House e outros pontos mais administrativos – declarou Piroxz.
O primeiro título
O fim da MAD marcou um período de afastamento de Piroxz do competitivo. Apesar disso, o estudo sobre o jogo não parou, e o profissional se manteve atualizado sobre escolhas e estilos de jogo de equipes de diferentes regiões. A volta aos trabalhos, desta vez como analista, coincidiu com um momento ruim do primeiro representante brasileiro em um mundial de League of Legends.
- Nessa época, a KaBuM tinha retornado do mundial e não estava indo bem no CBLoL. Eu perguntei ao Minerva se eles estavam precisando de ajuda na comissão técnica, porque quem estava ajudando nesta parte de coaching era o Dans, que era jogador. Eles fizeram um teste comigo e acabei indo para lá. Não fiquei por muito tempo, mas foi uma experiência muito boa, porque foi meu primeiro contato com o estúdio da Riot e com outros players e técnicos – destacou.
Piroxz dando instruções aos jogadores da Kaos Latin Gamers — Foto: Divulgação/Riot Games
Os trabalhos como analista continuaram na Big Gods, Keyd e CNB. Ainda que tenha participado da montagem do elenco, Piroxz não chegou a fechar contrato com os Blumers, uma vez que em 2016 recebeu uma proposta para ser técnico da Kaos Latin Gamers (KLG), do Chile, e rumou numa empreitada para tentar salvar o time de um rebaixamento. Deu certo: após vencer a série de promoção daquele split, o time conseguiu uma arrancada histórica e se sagrou campeão da etapa de fechamento de 2016 do LAS, o campeonato de LoL dos demais países sul-americanos.
Momento atual na Redemption
Piroxz chegou à Redemption ao fim do Circuito Desafiante de 2018. Ele já havia treinado Marcos "Krastyel", Igor "DudsTheBoy" e Denilson "Ceos" na T Show, em 2017, quando o time acabou rebaixado sem nenhuma vitória no CBLoL. O primeiro contato com a formação atual, que foi complementada com o topo Renan "Nyu" e o caçador João Vitor "Zuao", aconteceu na pré-temporada deste ano.
O treinador considera os dois momentos citados como os de maior aprendizado para a carreira e garante que o grupo de agora tem muito potencial para bater de frente com as demais organizações do país.
- As experiências que eu tive com a T Show, principalmente com o rebaixamento, foram bem impactantes e me ensinaram bastante, mas trabalhar com os jogadores de agora tem sido a experiência que mais tem me motivado e mais tem me ensinado coisas – avaliou.
Piroxz passando estratégias ao elenco da Redemption — Foto: Divulgação/Riot Games